Diagnóstico e remédio (parte 2)



Antes que o pecado viesse a existir, a Escritura se refere ao homem como um ser perfeito, criado para desfrutar íntima comunhão com o Criador e com o seu semelhante, pertencendo a um Deus que, unicamente, é a fonte de vida.

Cada etapa da criação foi demarcada com a sentença divina de que tudo era "bom" (Gênesis 1:4, 10, 12, 18 e 25), mas no sexto dia, depois de criar Adão e Eva, Deus declarou que tudo quanto fizera "era muito bom" (v. 31), significando que homem e mulher eram tanto o clímax da criação como a imagem e semelhança de seu Criador (v. 26).

Adão e Eva foram criados com a capacidade de manter um relacionamento moral e espiritual com Deus, uma relação de dependência e de comunhão com Ele.

No entanto, como entidades morais livres, podiam decidir obedecer ou não ao Criador. A obediência devia resultar de um relacionamento com Deus por livre escolha, proveniente de amor incondicional e exclusivo apreço pela vontade divina, revelada nos princípios e normas morais de conduta. O fato de terem livre escolha não era desculpa para ceder ao pecado. Pelo contrário, fazia de Adão e Eva criaturas responsáveis e responsabilizáveis. (1)

A origem do problema


Afastando-se, porém, de Deus, nossos primeiros pais colocaram-se deliberadamente sob a influência do inimigo das almas, consentindo com o seu engano e se unindo a ele em sua rebelião contra Deus (Gênesis 3:1-6).

Como resultado, o ideal pretendido da imagem divina foi alterado, e, embora uma parte dessa imagem tenha sido preservada no que restou da dignidade humana, o homem passou a resistir ao plano de Deus, recusando-se a viver segundo as prescrições divinas no tocante à adoração ao Criador e a seus deveres consigo mesmo e com o próximo.

Tão grande foi o efeito produzido pelo pecado, que causou uma mudança completa na natureza espiritual do homem, tornando-o incapaz de compreender as coisas de Deus e fazer a Sua vontade.

De sorte que o pecado trouxe como resultado degeneração em todos os aspectos da vida humana - degeneração da qual a história e a experiência testificam amplamente. Alienada da única Fonte de vida, a humanidade ficou sujeita à morte, e, desde então, pecado e morte reinam em nosso mundo, envolvendo cada homem e mulher nascidos neste planeta.

O pecado é, pois, uma trágica realidade que invadiu o domínio de Deus e tem trazido somente alienação, rebelião, sofrimento e morte a um mundo outrora perfeito.

O pecado custou a terça parte dos anjos (Apocalipse 12:3-4, 9, conforme 1:20), e tem custado ao longo das eras um sem número de vidas humanas, constituindo o inimigo mortal de toda criatura com quem se acha envolvido.

Acima de tudo, o preço do pecado exigiu a vida do Filho de Deus. O tamanho de Seu sacrifício revela o tamanho do problema.

Como já observamos,  a Bíblia esclarece que o pecado não é uma realidade pré-determinada por Deus, mas o resultado de uma atitude ativa e voluntária da parte do homem pela qual ele resiste em aceitar o plano de Deus para a sua vida. Essa resistência decorre principalmente de uma propensão interior para o pecado, uma disposição figadal que aliena e escraviza (João 8:34).

Neste contexto, pecado não é a ausência do bem, mas, segundo a terminologia bíblica para pecado, é não atingir as expectativas de Deus livre e espontaneamente. (2)

O pecado e suas implicações


Pecado é, com efeito, um estado de rebelião contra Deus e Seu governo (I João 3:4), uma qualidade religiosa que separa o homem de Deus (Isaías 59:2; Romanos 3:23) e afeta seu relacionamento com Ele, consigo mesmo e com seu semelhante.

W.H. Endruveit (3) relaciona quatro roturas ou separações provocadas pelo pecado:

  1. Separação entre Deus e o homem (Gênesis 3:8-9);
  2. Separação no homem e na mulher (i.e., roturas físicas, emocionais, psicológicas e mentais);
  3. Separação na família e na sociedade;
  4. Separação do homem com a natureza (Gênesis 3:17).

Há ainda uma última separação que constitui o clímax das rupturas que resultaram da queda de nossos primeiros pais: a separação entre o Pai e o Filho quando Jesus morreu na cruz do calvário (Mateus 27:46).

Esta última e culminante separação revela mais do qualquer outra coisa as profundezas do pecado, sua malignidade e caráter repulsivo, ao passo que pela fé divisamos o sangue purificador de Cristo capaz de remover toda mácula de pecado e restaurar no homem a imagem de seu Criador.

De maneira que o conceito bíblico de pecado abrange tanto a dimensão do comportamento como a do relacionamento; o pecado é uma anomalia comportamental porque consiste na transgressão da lei de Deus (I João 3:4), e relacional em virtude da evidente alienação que provoca (Isaías 59:2).

Mas a despeito da natureza maligna do pecado e de sua inegável presença no mundo, o pecador não tem pleno discernimento de sua aflitiva condição perante Deus.

O profeta Jeremias declara:

Enganoso é o coração, mais do que todas as coisas, e desesperadamente corrupto; quem o conhecerá? (Jeremias 17:9)

É porque Deus compreende as tendências da natureza depravada do homem e suas terríveis consequências que Ele estende o convite através do evangelho para que os seres humanos descubram o pecado como a causa primária de suas mazelas individuais e coletivas, e busquem em Deus a solução.

Notas e referências


1. John M. Fowler, "Pecado". Em Tratado de Teologia Adventista do Sétimo Dia, Raoul Dederen (Ed.). Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2011, p. 264.

2.  Sobre a rica variedade de termos bíblicos que expressam o conceito de pecado, ver Fowler, op. cit., p. 267-270. Compare-se com a terminologia bíblica da salvação em Ivan T. Blazen, "Salvação", p. 306-307.

3. Wilson H. Endruveit, Experiência da Salvação. São Paulo, 2007, p. 34-43.

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