Apocalipse 14 e a Segunda Vinda de Cristo



A certeza do retorno de Jesus tem animado e fortalecido o povo de Deus ao longo de gerações. Paulo se referiu a esse glorioso acontecimento como a "bendita esperança" (Tito 2:13), e João, em resposta à garantia de nosso Salvador de que voltaria em breve, exclamou: "Vem, Senhor Jesus!" (Apocalipse 22:20).

De cada onze versículos do Novo Testamento, um se refere à volta de Cristo, e, segundo Dwight Moody, há cerca de 2.500 referências em toda a Bíblia. O bem-aventurado regresso de nosso Redentor é, sem dúvida, o evento mais importante nas Escrituras, sobretudo no Apocalipse.

No último livro da Bíblia, a volta de Jesus é apresentada como a consumação do evangelho eterno, a plena realização das mais acalentadas aspirações da igreja. Mas é também revelada em um tom de solene advertência. João diz que "todas as tribos da terra se lamentarão" (Apocalipse 1:7), e os ímpios, em desespero, clamarão "aos montes e aos rochedos: Caí sobre nós e escondei-nos da face daquele que se assenta no trono e da ira do Cordeiro, porque chegou o grande Dia da ira deles; e quem poderá suster-se?" (6:16-17). Somente os que tiverem recebido o selo de Deus poderão resistir (7:1-3; 14:1-5).

No grande Dia do Senhor, o caráter dos justos e dos ímpios será posto em evidência pela última vez (Apocalipse 22:11). Quando Deus, mediante a proclamação das três mensagens angélicas, houver efetuado Sua solene obra e a seara da Terra estiver madura para a colheita, Jesus Cristo voltará em poder e glória.

Sua vinda é representada em Apocalipse 14:14 a 20 por uma dupla colheita: a ceifa e a vindima. Isso significa que há somente duas vinhas sendo cultivadas na Terra; uma de origem celestial, e a outra, terrestre.

Somente dois grupos


Em uníssono com os demais livros da Bíblia, o Apocalipse esclarece que haverá apenas dois grupos quando Jesus voltar. Nessa ocasião, todos os casos já estarão decididos, seja para vida eterna, seja para vergonha e horror eterno:

Continue o injusto fazendo injustiça, continue o imundo ainda sendo imundo; o justo continue na prática da justiça, e o santo continue a santificar-se. (Apocalipse 22:11)

Todos farão sua escolha, e a vinda de Cristo revelará a decisão de cada indivíduo. Não admira a solenidade e urgência que acompanham a proclamação da tríplice mensagem angélica. Esse último apelo de Deus é anunciado ao mundo antes que cada caso seja irrevogavelmente decidido pelo tribunal celestial. A sentença proferida acima encerra formalmente o juízo pré-advento ou investigativo, e dá lugar aos juízos retributivos de Deus consumados por meio dos sete últimos flagelos (Apocalipse 15 e 16). Durante o clímax desses juízos, Cristo voltará "para retribuir a cada um segundo as suas obras" (Apocalipse 22:12).

Nesse contexto, é de grande significação a maneira como João descreve a esperança do retorno de Jesus:

Olhei, e eis uma nuvem branca, e sentado sobre a nuvem um semelhante a filho de homem, tendo na cabeça uma coroa de ouro e na mão uma foice afiada. Outro anjo saiu do santuário, gritando em grande voz para aquele que se achava sentado sobre a nuvem: Toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu" (Apocalipse 14:14-15)

Hans K. LaRondelle observa que essa representação simbólica da segunda vinda de Cristo como Rei e Juiz da terra une duas cenas separadas de juízo no Antigo Testamento. As expressões "nuvem branca" e "um semelhante a filho de homem" provêm da cena de juízo de Daniel 7 (verso 13). O chamado para segar a terra com uma "foice afiada" é diretamente tomada da cena de juízo de Joel 3. A ordem proferida pelo anjo, "toma a tua foice e ceifa, pois chegou a hora de ceifar, visto que a seara da terra já amadureceu", é uma expansão deliberada de Joel 3:13. (1)

A combinação que João fez de ambas as profecias (de Daniel e Joel) demonstra que o apóstolo considerava essas predições hebraicas mutuamente complementares. Sob inspiração divina, o vidente de Patmos estruturou sua visão na perspectiva de duas fases distintas de juízo: uma de caráter investigativa, descrita em Daniel 7, e outra de natureza retributiva, descrita em Joel 3. Nas duas fases do juízo, o Filho do homem é o grande Protagonista que cumpre Seus eternos propósitos.

Ênfase na separação


Tanto em sua fase investigativa, como em sua fase retributiva, o juízo divino tem o objetivo de separar o justo do ímpio. Essa é a razão principal porque a segunda vinda de Jesus é representada por uma dupla colheita. A profecia não visa apresentar um retrato preciso desse glorioso evento, mas enfatizar por meio de uma representação simbólica a obra de separação definitiva, de alcance mundial, que terá lugar nessa ocasião.

Em Sua explicação da parábola do joio, nosso Redentor se referiu a esse importante aspecto da segunda vinda, ampliando para proporções mundiais o campo onde ocorre a colheita final:

O campo é o mundo; a boa semente são os filhos do reino; o joio são os filhos do maligno; o inimigo que o semeou é o diabo; a ceifa é a consumação do século, e os ceifeiros são os anjos. (Mateus 13:38-39).

Ao ampliar o campo para uma extensão mundial, Jesus põe em relevo o alcance de Sua obra por ocasião da segunda vinda. O mundo como o palco dos últimos eventos é enfatizado também por João (Apocalipse 14:15, 16, 18 e 19). A terra inteira é o campo no qual amadurecem as sementes boas e ruins.

Agora, observe o seguinte: Em seus estágios iniciais, não é possível distinguir o joio do trigo; somente quando a planta amadurece e as sementes ficam escuras a planta se torna distinguível. (2) O amadurecimento do caráter dos justos e dos ímpios se torna evidente no tempo da ceifa e da vindima, quando a distinção entre os dois grupos se torna absolutamente clara. Se a princípio o joio e o trigo são semelhantes, no tempo da colheita final já não haverá qualquer semelhança entre eles, como demonstra a figura dos cereais e das uvas em Apocalipse 14:14 a 20, os quais são completamente diferentes.

Essa separação final e definitiva entre os justos e os ímpios é enfatizada por Jesus:

Pois, assim como o joio é colhido e lançado ao fogo, assim será na consumação do século. Mandará o Filho do Homem os seus anjos, que ajuntarão do seu reino todos os escândalos e os que praticam a iniquidade e os lançarão na fornalha acesa; ali haverá choro e ranger de dentes. (Mateus 13:40-42)

De fato, João Batista se referiu a essa dimensão da obra de Cristo, ao declarar:

A sua pá, ele a tem na mão e limpará completamente a sua eira; recolherá o seu trigo no celeiro, mas queimará a palha em fogo inextinguível. (Mateus 3:12)

A declaração do anjo em Apocalipse 14:15 de que a "seara da terra já amadureceu" indica, sem dúvida alguma, que a proclamação das três mensagens angélicas, sob o poder do Espírito Santo, cumpriu sua obra de maturação mundial (Apocalipse 18:1-5).

Um juízo centralizado em Jesus


Da mesma forma que na parábola do joio, a visão da ceifa e da vindima, a qual é uma confirmação dramática das palavras do Mestre, descreve um juízo centralizado em Jesus. O fato de que Ele seja descrito em Apocalipse 14:14 como Aquele que tem na cabeça uma "coroa de ouro", indica Seu direito legítimo de exercer um juízo que estabelece, pela última vez, "a diferença entre o justo e o perverso, entre o que seve a Deus e o que não o serve" (Malaquias 3:18). Essa prerrogativa é representada pela "foice afiada" na mão do Filho do Homem.

O conceito do juízo em torno de Cristo como Juiz de toda a humanidade foi primeiramente introduzido pelo próprio Salvador, quando Ele disse:

Então, verão o Filho do Homem vir nas nuvens, com grande poder e glória. E ele enviará os anjos e reunirá os seus escolhidos dos quatro ventos, da extremidade da terra até à extremidade do céu. (Marcos 13:26-27)

Observe como Jesus aplica a Si mesmo o título messiânico "Filho do Homem" de Daniel 7:13! Isso significa duas coisas: (1) o que Jesus predisse é descrito visualmente em Apocalipse 14:14; e (2) o uso intencional que Jesus fez do título "Filho do Homem" indica claramente que a visão do juízo em Daniel 7 é o antecedente imediato de Apocalipse 14:14.

Conforme assinala LaRondelle, é um descobrimento de um significado fundamental entender que Daniel 7 e Apocalipse 14 se relacionam entre si como verdade profética e verdade presente! O assunto essencial nessa revelação progressiva é o cumprimento cristológico da profecia messiânica de Daniel (7:13-14; Apocalipse 14:14; também 1:7, 13). (3)

Tanto quanto o juízo pré-advento e a ceifa, o juízo de retribuição representado pela vindima (Apocalipse 14:17-20) está centralizado em Cristo:

Então saiu do santuário, que se encontra no céu, outro anjo, tendo ele mesmo também uma foice afiada. Saiu ainda do altar outro anjo, aquele que tem autoridade sobre o fogo, e falou em grande voz ao que tinha a foice afiada, dizendo: Toma a tua foice afiada e ajunta os cachos da videira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas! Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-as no grande lagar da cólera de Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios.

O contexto-raiz de Joel 3


A visão da vindima é uma ampliação de uma colheita semelhante descrita no capítulo 3 de Joel. Aqui, as promessas de Jeová eram condicionais no tocante ao Israel nacional, mas incondicionais quanto à natureza escatológica dos eventos. Em Apocalipse 14, João amplia essa dimensão da profecia de Joel, associando-a com a segunda vinda de Cristo. Nesse caso, o juízo em Joel 3 constitui uma prefiguração do juízo em Apocalipse 14.

A primeira coisa que chama a nossa atenção é a presença da foice em ambas as visões. Em Joel 3:13, lemos:

Lançai a foice, porque está madura a seara; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande.

A seara madura requer que a colheita seja realizada. A diferença é que João amplia a visão de Joel para uma dupla colheita: a ceifa do trigo e a vindima. A foice é um símbolo do juízo de Cristo na segunda vinda. Somente o Filho do Homem tem autoridade para exercê-lo, como o próprio Salvador testificou: "E o Pai a ninguém julga, mas ao Filho confiou todo julgamento" (João 5:22, ver também o verso 27). Embora no caso da vindima "outro anjo" tenha uma foice afiada (Apocalipse 14:17), a responsabilidade final pela colheita é de Cristo.

Em Joel 3:13, é Jeová Quem segura a foice afiada; em Apocalipse 14:14 a 20 é Jesus Cristo, o Filho do Homem. O grande Juiz de Joel 3 é Jesus Cristo! Eles são a mesma Pessoa! Jesus é o Filho do Homem de Daniel 7:13 e 14. Ele recebe domínio, glória e o reino e, portanto, autoridade para exercer juízo em suas diferentes fases (lembre-se que o fato de Cristo receber tais prerrogativas deve ser entendido estritamente dentro do contexto da história da redenção). Como Rei ("coroa de ouro") e Juiz ("foice afiada"), Cristo possui a prerrogativa de executar os vereditos do tribunal celestial.

Essa correspondência significativa entre Joel 3 e Apocalipse 14 revela em primeiro lugar aquilo que chamamos de cumprimento cristológico.

Em Joel 3:13, a foice é lançada logo após o urgente chamado de Jeová por intermédio de Seu profeta:

Congregarei todas as nações e as farei descer ao vale de Josafá; e ali entrarei em juízo contra elas por causa do meu povo e da minha herança, Israel, a quem elas espalharam por entre os povos, repartindo a minha terra entre si. (Joel 3:2).

A ênfase em um julgamento é bastante clara no texto. Josafá significa "Jeová julga". E o motivo do juízo diz respeito ao povo da aliança. O ato de Deus entrar em juízo contra as nações por causa de Seu povo reflete a vindicação do próprio caráter de Jeová perante Seus inimigos (a mesma vindicação é evidente em Apocalipse 14, 15 e 16). Ao atentarem contra o povo de Jeová, estas nações atentaram contra o próprio Deus (ver Zacarias 2:8).

Como em Joel 3, Apocalipse 14 também apresenta o chamado de Deus a todas as nações por meio das três mensagens angélicas (versos 6 a 12).

O remanescente fiel de Israel no tempo do fim é identificado em Apocalipse 14:1 a 5 como os seguidores do Cordeiro. Esse grupo não está restrito a uma única etnia, como no antigo pacto, porque em Cristo as restrições étnicas e geográficas são removidas (Gálatas 3:28-29). A igreja de Cristo é uma comunidade de muitas etnias, sendo chamada "Israel de Deus" (Gálatas 6:16).

A compreensão neotestamentária sobre o lugar da igreja na nova aliança é teologicamente chamada de cumprimento eclesiológico. É essa igreja multiétnica que será vindicada por ocasião da vinda de Cristo.

O vale de Josafá é o local onde Deus entra em juízo contra todas as nações da terra. Em Apocalipse 14:17 a 20, este vale, também chamado "vale da decisão" (Joel 3:14), é ampliado para o mundo inteiro. Essa extensão em escala mundial é evidenciada de modo inconfundível pela repetição intencional (seis vezes) do termo "a terra"; três vezes para a ceifa e três vezes para a vindima. (4)

A ampliação do vale local de Joel a proporções mundiais em Apocalipse 14 é chamada cumprimento universal. Um evento histórico e local é usado por João como prefiguração de um evento escatológico e universal, identificado com a segunda vinda de Cristo.

Em resumo, temos o seguinte:


  • Cumprimento cristológico. O grande Juiz de Joel 3 é Jesus Cristo em Apocalipse 14:14 a 20.
  • Cumprimento eclesiológico. Certos aspectos incondicionais da profecia que não se cumpriram no Israel nacional são cumpridos no Israel espiritual, que é a igreja de Cristo.
  • Cumprimento universal. O evento histórico e local de Joel 3 é ampliado para proporções escatológicas e universais em Apocalipse 14:17 a 20.


A grande colheita das uvas


A vindima, que representa a colheita dos ímpios, é descrita de forma dramática em Apocalipse 14:17 a 20. Em Joel 3:13, o profeta vê a vinha pronta para a colheita:

Lançai a foice, porque está madura a seara; vinde, pisai, porque o lagar está cheio, os seus compartimentos transbordam, porquanto a sua malícia é grande.

Apocalipse 14:18 diz que o anjo deve lançar sua foice afiada e ajuntar "os cachos da videira da terra, porquanto as suas uvas estão amadurecidas".

Essas uvas humanas, prestes a serem pisadas, transbordam do lagar em virtude de sua grande malícia, ou seja, sua propensão para o mal. Revela-se aqui a condição moral daqueles que serão lançados no "grande lagar da cólera de Deus" (Apocalipse 14:19). João vê o cumprimento de Joel 3 na segunda vinda de Cristo.

Descreve-se, então, o destino final dessas uvas maduras:

Então, o anjo passou a sua foice na terra, e vindimou a videira da terra, e lançou-a no grande lagar da cólera de Deus. E o lagar foi pisado fora da cidade, e correu sangue do lagar até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios. (Apocalipse 14:19-20)

Pelo menos quatro perguntas surgem da leitura desses versos: (1) O que é o grande lagar da ira de Deus? (2) Quem pisa o lagar? (3) Se o lagar é pisado "fora da cidade" é fundamental permanecer dentro dela. Que cidade é esta? (4) O que significam os 1.600 estádios?

O grande lagar da ira de Deus


Apocalipse 15:1 revela o significado da imagem do lagar da ira de Deus mencionada por João a partir de Joel 3:13:

Vi no céu outro sinal grande e admirável: sete anjos tendo os sete últimos flagelos, pois com estes se consuma a cólera de Deus.

Isso significa que a cólera ou ira de Deus é consumada ou executada mediante os sete últimos flagelos. Esses juízos, sem mistura de misericórdia e graça (Apocalipse 14:10), são destinados aos adoradores da besta e sua imagem, cujos "pecados se acumularam até ao céu" (18:5).

O ato de pisar o lagar provém de um símbolo profético usado pelos profetas do Antigo Testamento para ilustrar os juízos de retribuição de Deus. Em Isaías 63:1 a 6, Edom, inimigo tradicional dos israelitas, é comparado a uma vinha sendo "pisada" por Jeová para vingar Seu povo. Em Jeremias 25:15, o profeta recebe de Deus o encargo de dar a beber a todas as nações do "cálice do vinho do meu furor".  A intensidade do clamor de Deus contra estas nações é comparada ao grito "dos que pisam as uvas".

Quem pisa o lagar


Em Apocalipse 14:20, é Cristo Quem pisa o lagar. Numa outra visão da segunda vinda, João expressamente diz:

Sai da sua boca uma espada afiada, para com ela ferir as nações; e ele mesmo as regerá com cetro de ferro e, pessoalmente, pisa o lagar do vinho do furor da ira do Deus Todo-Poderoso. (Apocalipse 19:15)

O ato de Cristo "pisar o lagar" é simbolicamente representado pelo "manto tinto de sangue" (verso 13), uma imagem extraída de Isaías 63:3. No passado, Edom era o arqui-inimigo de Israel. Essa nação representa os inimigos da igreja de Deus. No Apocalipse, eles são chamados "Babilônios".

O sangue que tinge o manto do Rei de Israel é o sangue dos Seus inimigos. Deus destrói os inimigos para salvar o Seu povo. Salvação e destruição são eventos inseparáveis. Ao pisar o lagar, o suco das uvas humanas mancha Suas vestes.

Há, porém, outra aplicação igualmente importante. Isaías 63:3 diz: "O lagar, eu o pisei sozinho". Há no Novo Testamento uma aplicação surpreendente desse texto. Jesus estava sozinho no Getsêmani, "pisando" nossos pecados, e o Seu próprio sangue manchou Suas vestes!

Existem, portanto, duas aplicações no Novo Testamento: uma se referindo à primeira vinda, e a outra, à segunda vinda. Nisso consiste o evangelho, e é por causa desse fato - o sangue derramado de Cristo - que nosso amado Salvador tem o direito de pisar os inimigos no lagar. (5)

Identificando a cidade


João contempla em visão o lagar sendo pisado "fora da cidade" (Apocalipse 14:20). Isso significa que todos os que não estiverem dentro da cidade serão alvo da ira de Deus consumada por meio dos sete últimos flagelos.

João amplia a visão de Joel. Aqui, o lagar das uvas é pisado no vale da Josafá (3:12-14). Somente os que invocarem o nome do Senhor e permanecerem no monte Sião ou Jerusalém estarão a salvo (2:32). Em Apocalipse 14, o vale de Josafá é ampliado para o mundo inteiro, e só escaparão dos juízos punitivos de Deus aqueles que atenderem ao último apelo divino, "Retirai-vos dela, povo meu" (Apocalipse 18:4). Os santos devem sair de Babilônia e unir-se a Cristo e Sua igreja.

A profecia de Joel 3 encontra o seu cumprimento na dupla colheita de Apocalipse 14. A expressão "fora da cidade" nos leva ao verso 1, que descreve os santos em pé com o Cordeiro no monte Sião. Joel 2:32 se cumpre precisamente aqui. A cidade não é a Jerusalém da Palestina, no Oriente Médio. O foco aqui não é étnico nem geográfico, mas cristocêntrico! Em Apocalipse 14:1 aprendemos que o monte Sião é o monte da salvação porque Cristo está nele! Os 144 mil estão salvos porque estão com o Cordeiro. Nesta perspectiva, a cidade representa Cristo e, por extensão, Sua igreja! Ele é a Fortaleza sob a qual os santos podem achar descanso e proteção durante o tempo de angústia (ver Salmo 91).

Os 1.600 estádios


Apocalipse 14 começa com um número que indica um povo - os 144 mil - e termina com um número que indica um lugar - os 1.600 estádios. Um simboliza o povo de Deus que será preservado durante as sete últimas pragas, o outro, o local da condenação dos ímpios.

Representam-se aqui destinos opostos para os justos e para os ímpios. O povo de Deus estará com o Cordeiro no Monte Sião e, portanto, dentro da cidade, ao passo que seus inimigos estarão reunidos fora da cidade. A cena dramática do sangue que sai do lagar "fora da cidade" e chega "até aos freios dos cavalos, numa extensão de mil e seiscentos estádios" reflete a intensidade e o alcance dos juízos retributivos de Deus.

Em um artigo anterior (clique aqui) vimos que o número-chave para 144 mil é 12, um número que remete ao povo de Deus; 144 mil é o resultado de 12 x 12 x 1000. O produto enfatiza a totalidade do povo de Deus que resistirá à volta de Cristo nos últimos dias. Fora desse grupo estão os adeptos de Babilônia mística.

O número-chave para 1.600 estádios é 4. O número simboliza abrangência ou universalidade: "quatro cantos da terra", "quatro ventos da terra", "quatro confins da terra" (Apocalipse 7:1; 20:8; Mateus 24:31; Isaías 11:12, entre outros textos). Os 1.600 estádios são o produto de 4 x 4 x 100, portanto uma ênfase complementar ao fato de a colheita final abranger a terra inteira, em cumprimento às palavras inspiradas do profeta Jeremias:

Os que o Senhor entregar à morte naquele dia se estenderão de uma a outra extremidade da terra; não serão pranteados, nem recolhidos, nem sepultados; serão como esterco sobre a face da terra (Jeremias 25:33)

Jesus vem. Prepara-te!


A representação simbólica da segunda vinda de Cristo em Apocalipse 14:14 a 20 combina esperança com advertência. Enfatizar só um aspecto em detrimento do outro significa distorcer o verdadeiro propósito da profecia, que destaca a obra de separação na consumação do século. Somente os que receberem o selo divino de aprovação e proteção poderão estar ao abrigo dos juízos punitivos de Deus, simbolizados pelo grande lagar da Sua ira. O ato de Cristo pisar o lagar transbordante se refere aos sete últimos flagelos, pelos quais Ele é pessoalmente responsável. A destruição dos perseguidores representará a salvação dos perseguidos.

Mediante as três mensagens angélicas, Deus apela a cada homem, mulher e criança deste planeta que abandone as diversas formas de idolatria e falsidade que caracterizam a apostasia de proporções ecumênicas e una-se a Cristo, aceitando Seu evangelho eterno. Deus expressamente declara:

Porque não tenho prazer na morte de ninguém, diz o SENHOR Deus. Portanto, convertei-vos e vivei. (Ezequiel 18:32)

Todos os que responderem favoravelmente ao apelo divino pela fé em Jesus estarão entre aqueles que dirão no dia da Sua vinda:

Eis que este é o nosso Deus, em quem esperávamos, e ele nos salvará; este é o SENHOR, a quem aguardávamos; na sua salvação exultaremos e nos alegraremos. (Isaías 25:9)

Notas e referências


1. Hans K. LaRondelle. As Profecias do Tempo do Fim. Versão digitalizada. Título do original em inglês (5ª edição inglesa, 1997): How to Understand the End-Time Prophecies of the Bible. Tradução de Carlos Biagini, p. 293.

2. Comentário Bíblico Adventista do Sétimo Dia, Vol. 5. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2013, p. 427.

3. Hans K. LaRondelle, op. cit.

4. Ibid., p. 295 e 296.

5. Uma Luz Maior sobre o Armagedon. Anotações da classe de Escatologia Bíblica publicadas por Alcides Campolongo com autorização do Professor Hans K. LaRondelle, p. 84.

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