A adoração e o sábado (parte 3)



Quando um clérigo do Estado americano do Iowa, chamado Enright, durante uma palestra intitulada "A Igreja Verdadeira da Bíblia", ofereceu mil dólares a qualquer pessoa que provasse somente pelas Escrituras que o domingo é o dia do Senhor, ele estava plenamente convencido de que ninguém seria capaz de reclamar a importância (em 1884, mil dólares eram uma soma expressiva de dinheiro!).

Alguns anos depois, em 1889, o padre Enright renovou o seu desafio em uma apresentação em Harlan, sem encontrar, contudo, uma única pessoa que pudesse fazer jus ao prêmio. "Tenho repetidamente oferecido mil dólares", disse ele, "a quem puder apresentar evidência bíblica de que o domingo é o dia que devemos santificar, e ninguém ainda reclamou o dinheiro. Se qualquer pessoa nesta cidade mostrar-me qualquer texto nesse sentido, vou amanhã à noite reconhecer publicamente e agradecer-lhe por isso". (1)

Somos indesculpáveis diante da verdade


De fato, a Bíblia é muito clara quanto ao dia que Deus escolheu para que o homem desfrutasse um encontro especial com Ele. Se há entre as verdades auto-evidentes das Escrituras um assunto suficientemente revelado e explícito o bastante para justificar nossa fidelidade e obediência sem margem para dúvidas, esse assunto é o sábado do sétimo dia.

Mas, ao que parece, é peculiar da nossa natureza conjecturar acerca daquilo que Deus revelou tão claramente como as palavras podem fazê-lo, e complicar o que a Providência manifestamente tornou simples.

Assim, embora Moisés, sob inspiração divina, tenha usado seis vezes a expressão "houve tarde e manhã" para delimitar o período de um dia (do hebraico, yom, como definido pela tarde e manhã em Gênesis 1) para cada uma das etapas da criação, escolhemos sustentar o ponto de vista segundo o qual tais dias não são literais, mas simbólicos, atribuindo-lhes outro significado!

Apesar de nosso Senhor Jesus ter expressamente declarado a respeito do Apocalipse: "Revelação de Jesus Cristo", e ter deixado uma preciosa promessa àqueles que leem, ouvem e guardam as suas profecias (Apocalipse 1:1, 3), somos mais propensos a concluir o oposto, isto é, que se trata de um livro oculto, fechado e enigmático demais para ser compreendido!

O mesmo fenômeno se dá com o sábado. E uma vez que a falácia das suposições humanas apenas esconde, em realidade, a nossa resistência aos princípios da Bíblia que não desejamos cumprir, deveríamos nos perguntar se, por conta disso, não nos tornamos parceiros de uma conspiração satânica que tem induzido o mundo à ilegalidade e à rejeição de toda a restrição moral.

É possível que, diante das evidências a seguir, estejamos jogando a partida de nossas vidas do lado errado do campo?

Um mandamento moral


O mandamento do sábado não é menos moral do que os demais preceitos da lei de Deus. Ele foi estabelecido por um Deus moral, em um mundo moral, para benefício de criaturas morais. Gênesis 2:2-3 estabelece o fundamento moral do sábado do sétimo dia (note a ênfase de Moisés ao atributo criador de Deus):

E, havendo Deus terminado no dia sétimo a sua obra, que fizera, descansou nesse dia de toda a sua obra que tinha feito. E abençoou Deus o dia sétimo e o santificou, porque nele descansou de toda a obra que, como Criador, fizera.

Os que argumentam contra a observância universal do sábado veem na ausência do termo nessa passagem uma evidência nesse sentido. Mas tal argumento não procede. A palavra "descansou" é a tradução do verbo hebraico shabath (parar, descansar, terminar, comemorar, guardar [o sábado]). Ademais, o próprio mandamento do sábado define que "o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus" (Êxodo 20:10)!

É bastante evidente que Deus descansou no sábado do sétimo dia com o propósito de prover à raça humana o exemplo ou modelo do descanso semanal, comemorativo dos atos criadores de Deus. E o preceito do sábado revela da maneira mais explícita a razão pela qual o Senhor deve ser adorado: "porque, em seis dias, fez o SENHOR os céus e a terra, o mar e tudo o que neles há e, ao sétimo dia, descansou" (Êxodo 20:11).

Essa é precisamente a mesma razão apresentada na mensagem do primeiro anjo em Seu apelo à adoração verdadeira:

... e adorai aquele que fez o céu, e a terra, e o mar, e as fontes das águas. (Apocalipse 14:7)

Deus, porém, não somente descansou no sábado, como também o abençoou e o santificou! É, pois, nessa tríplice ação divina que encontramos o sentido moral do sábado, que o distingue claramente dos demais dias da semana. A bênção divina sobre o sábado tornou esse dia um canal de bênçãos para toda a humanidade, e sua santificação, um reflexo das próprias qualidades divinas, tendo sido destinado, portanto, para uso sagrado.

Alberto R. Timm escreve:

Esse tríplice ato de Deus comprova a origem edênica do sábado (Gn 2:2, 3), anterior à queda de Adão e Eva (Gn 3), quando tudo ainda "era muito bom" (Gn 1:31). Portanto, o sábado é de natureza moral e de abrangência universal, cuja validade não se restringe a tempo, lugar ou povo específico. (2)

O testemunho de Jesus


Um dia assim honrado pelo Criador deve ser lembrado e observado como recordativo de Seus atos criadores, os quais O distinguem dos falsos deuses (Salmo 96:5; Jeremias 10:11-12). Trata-se de um memorial erigido no tempo para benefício de todas as gerações, em todos os lugares.

Se a criação é o fundamento natural do sábado, a relação que Deus espera ter com Suas criaturas nesse dia constitui seu fundamento moral. Nosso amado Salvador testificou dessa verdade, ao declarar:

O sábado foi estabelecido por causa do homem, e não o homem por causa do sábado; de sorte que o Filho do Homem é senhor também do sábado. (Marcos 2:27-28)

Esse notável testemunho de Jesus, confirmado pelo modo como Ele se relacionou com esse dia durante todo o Seu ministério terrestre (sobre isso, clique aqui), remete-nos ao propósito original do sábado do sétimo dia. Foi feito para dar o verdadeiro repouso de Deus ao homem e não para escravizá-lo. (3)

Se o Senhor desejasse restringir seu sentido, ou mesmo desobrigar os homens de observar o mandamento, certamente não teria se referido ao sábado da maneira como o fez, nem o teria exaltado tão magistralmente por meio das obras milagrosas que realizou nesse dia.

Além disso, Cristo Se identificou como Senhor do sábado, em harmonia com as palavras do quarto mandamento: "Mas o sétimo dia é o sábado do SENHOR, teu Deus" (Êxodo 20:10)! De fato, o sábado é o único dia da semana ao qual Deus se refere como sendo o Seu dia, tornando-o expressamente distinto dos demais.

Vede que somente o Criador tem a prerrogativa de identificar-Se como o Senhor do sábado, o que significa que Cristo, na qualidade de Criador e Legislador, tem plena autoridade para definir qual o dia de descanso, sua verdadeira natureza e propósito, e como ele deve ser observado.

Sinal de santificação


Além de memorial da criação, o sábado é também um sinal de santificação e, portanto, um monumento à redenção! O Senhor Deus, por intermédio de Seu profeta, declara:

Também lhes dei os meus sábados, para servirem de sinal entre mim e eles, para que soubessem que eu sou o SENHOR que os santifica.
Santificai os meus sábados, pois servirão de sinal entre mim e vós, para que saibais que eu sou o SENHOR, vosso Deus. (Ezequiel 20:12, 20)

E para que não pairasse nenhuma dúvida sobre a validade e abrangência dessas divinas palavras, o Senhor diz:

Dei-lhes os meus estatutos e lhes fiz conhecer os meus juízos, os quais, cumprindo-os o homem, viverá por eles. (Ezequiel 20:11)

Compare essa passagem com Eclesiastes 12:13 e Isaías 24:3 a 6. Penso que, para usar as palavras do ex-ministro do Supremo Tribunal Federal, Joaquim Barbosa, em discussão com um de seus pares, nós podemos ter divergências filosóficas, mas não factuais. É só olhar os textos!

O princípio do sinal que Deus estabeleceu entre Ele e Seu povo não é o povo em si, como se referindo a uma única etnia ou território específico, mas Deus, que não muda (Malaquias 3:6), e cujo sinal, o sábado, identifica-O como "eu sou o SENHOR"! Essa é uma verdade toda-abrangente e atemporal! O "eu sou" é o princípio da interpretação, e não aspectos étnicos ou geográficos.

O povo de Deus é identificado como tal em função da aliança que o próprio Senhor estabeleceu com ele, e não o contrário! E, do ponto de vista de Deus, todo homem que cumpre os estatutos e juízos divinos, pelos quais viverá, é povo de Deus (veja Isaías 56:1-8)!

Assim, o sábado é o sinal que identifica o Deus verdadeiro, Criador do céu e da terra, e, por extensão, a igreja que vive em virtude da aliança do Senhor com o Seu povo. Deus apresenta-Se aqui como Aquele que santifica os Seus escolhidos, porque somente o Criador pode recriar no homem a perfeita imagem de Seu caráter.

A essência da verdade presente


Em Sua oração intercessora pelos discípulos, nosso Senhor Jesus clamou: "Santifica-os na verdade; a tua palavra é a verdade" (João 17:17). O preceito do sábado não é menos verdadeiro que qualquer outra parte da Escritura em matéria de santificação!

Santificação, juntamente com a criação, constitui a base do apelo do anjo portador do evangelho eterno em Apocalipse 14:6 e 7, pois não podemos adorar verdadeiramente a Deus sem o temor do Senhor, e o temor de Deus não se obtém sem santificação!

Pecadores não podem santificar um dia, em obediência ao mandamento do Senhor (Êxodo 20:8; Levítico 23:32). O sábado é o sinal que identifica o Deus que é capaz de santificar pecadores penitentes e torná-los fiéis adoradores!

Consideremos, a título de reflexão, essa poderosa verdade tendo em vista o presente juízo no tribunal celeste, o qual decidirá o destino eterno de cada alma.

Em um artigo anterior, chamávamos a atenção para o fato de que nenhum de nós pode, com base na justiça própria, declarar-se purificado de todos os pecados perante a corte celestial.

Apenas Jesus Cristo, nosso grande Sumo Sacerdote, pode fazê-lo, ao comunicar-nos a Sua justiça através da santificação. É a palavra de Deus somente que pode ordenar pureza eterna e impecabilidade, tanto do ponto de vista individual, como cósmico.

Completa santificação, obediência à vontade de Deus, pureza de vida, perseverança na fé mediante a divina graça se tornam plenamente possíveis na vida do crente por meio do ministério sacerdotal de Cristo no santuário celestial.

Essa é a obra que nosso Redentor vem realizando desde 1844 em favor de Seus fiéis seguidores! O sábado, como sinal divino de santificação, aponta para essa solene realidade, e está implicitamente contido no derradeiro chamado do primeiro anjo à adoração verdadeira!

Conclusão


Contrapondo-se ao sinal da santificação, a besta e sua imagem pretendem impor a todas as pessoas a marca da mundanização (Apocalipse 13:16-17), baseada em um dia que, originalmente, exalta os deuses dos povos que não passam de ídolos (Salmo 96:5).

Apoiando-nos unicamente na "palavra de Deus" e no "testemunho de Jesus" no que tange à adoração verdadeira, precisamos fazer uma escolha honesta e coerente, e, nesse ponto, concordamos com a declaração dos editores do Catholic Mirror, órgão oficial do cardeal Gibbons, em seu número especial de dezembro de 1893:

A razão e o bom senso demandam a aceitação de uma ou outra das seguintes alternativas: ou o protestantismo e a guarda do sábado como dia santo, ou o catolicismo e a observância do domingo como dia santo. Conciliar é impossível. (4)

Notas e referências


1. Para uma exposição mais detalhada sobre o assunto, que inclui vários testemunhos semelhantes, leia o meu artigo "Por que o domingo não é o dia do Senhor".

2. Alberto R. Timm. O Sábado na Bíblia: Por que Deus faz questão de um dia. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2010, p. 24.

3. Mário Veloso. Mateus: Contando a História de Jesus Rei. Comentário Bíblico Homilético. Tatuí, SP: Casa Publicadora Brasileira, 2006, p. 153.

4. "The Christian Sabbath", Catholic Mirror, Appendix, Dec. 23, 1893.

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