O método historicista de interpretação protestante


O texto abaixo, extraído da obra do Reverendo Joseph Tanner, Daniel and the Revelation, assinala que o historicismo era o método de interpretação das profecias de Daniel e Apocalipse outrora aceito pelos protestantes.

Foi com base nesse método interpretativo que eles identificaram o anticristo como sendo o papado, razão porque Roma, por meio da Contrarreforma, empenhou-se em desfazer essa associação através de interpretações alternativas desenvolvidas pelos jesuítas.

Infelizmente, o fato de os protestantes, em sua esmagadora maioria, terem abandonado o historicismo como o sistema legítimo de interpretação das Escrituras proféticas testifica o quanto os jesuítas foram bem-sucedidos.

Vamos ao texto:


"E agora consideremos o momento em que o método Historicista, pode-se dizer, começou sua ascensão. Vimos qual era o estado vago e insatisfatório da interpretação profética pelo método de alegorização, característico da idade das trevas. É de admirar que o estudo da profecia tenha sido negligenciado como algo igualmente inútil e desinteressante? No entanto, após a longa permanência da escuridão da meia-noite, os raios do alvorecer começaram a surgir. Aqueles que foram os precursores da luz do Evangelho também foram o meio de levar luz aos temas proféticos, e a interpretação historicista começou a suplantar as generalidades improfícuas do método alegórico. Entre os valdenses e mediante Wycliffe e seus seguidores, tornou-se cada vez mais claro e mais distintamente difundido que o Papado era o Anticristo. Os santos de Deus começaram a reconhecer nesse sistema o grande poder perseguidor e destruidor dos santos, sobre o qual Daniel e João haviam profetizado.

"Em seguida, teve lugar a grande explosão da luz do Evangelho na Reforma. A que escola [de interpretação] profética aqueles heróis da fé pertenciam? Todos eles eram historicistas e estavam em harmonia quanto às principais características desse método, proclamando sem medo que o Papado era o Anticristo. De fato, foi a convicção de que tal método é verdadeiro no que tange ao significado do Anticristo que contribuiu para encorajá-los no conflito contra o grande adversário. O famoso Bispo Warburton disse: 'Foi sobre este princípio [ou seja, 'de que o Homem do Pecado, ou Anticristo, não poderia ser outro senão aquele que ocupa o trono papal'] que a Reforma começou e avançou; sobre esta grande separação da Igreja de Roma, foi concebida e aperfeiçoada.'

"Desse momento em diante, o método historicista de interpretação tornou-se firmemente estabelecido. Poder-se-ia apontar para uma longa linhagem de nomes ilustres, tanto pela capacidade intelectual como pela piedade pessoal, como Mede, Vitringa, Sir Isaac Newton, o Bispo Newton, o Professor Birks, de Cambridge, o Sr. Elliott, e, em nossos dias, o Dr. Grattan Guinness e o Dr. Gordon, da América. De acordo no método geral de interpretação, que nós temos notado como distintivo do sistema historicista, cada escritor tem procurado trazer nova luz sobre os detalhes. Um grande evento após o outro na história do mundo, como as luzes do farol que iluminam o curso para o marinheiro, provou que os intérpretes historicistas estavam no caminho certo, permitindo-lhes discernir sua posição atual no quadro profético. E agora somente esperavam os eventos finais da presente dispensação para consolidar a prova e cumprir o que ainda faltava. [...]

"Tão grande era a convicção impressa na mente dos homens de que o Papado era o Anticristo, que Roma finalmente se viu compelida a introduzir outros métodos de interpretação, a fim de neutralizar a identificação do Papado com o Anticristo.

"Assim, perto do fim do século da Reforma, dois de seus doutores [da Igreja Católica] mais instruídos apresentaram-se para a tarefa, cada um esforçando-se por diferentes meios para atingir o mesmo fim, ou seja, desviar a mente dos homens do cumprimento das profecias sobre o Anticristo no sistema papal. O jesuíta Alcazar se dedicou a pôr em evidência o método Preterista de interpretação, o qual já observamos brevemente, e, assim, empenhou-se em demonstrar que as profecias sobre o Anticristo foram cumpridas antes que os Papas governassem em Roma, e, portanto, não poderiam aplicar-se ao Papado. Por outro lado, o jesuíta Ribera tentou afastar do poder papal a aplicação dessas profecias concebendo o método Futurista, segundo o qual essas profecias não se referem propriamente ao Papado, mas a um futuro indivíduo sobrenatural, que ainda está por vir, e que permanecerá no poder por três anos e meio. Assim, como diz Alford, o jesuíta Ribera, por volta de 1580, pode ser considerado o fundador do sistema futurista nos tempos modernos.

"É uma questão de profundo pesar que aqueles que sustentam e defendem o método futurista nos dias de hoje, os protestantes em sua maioria, estejam, com efeito, realmente fazendo o jogo de Roma, e contribuindo para ocultar a identificação do Papado como o Anticristo. Tem sido bem dito que o 'futurismo tende a obliterar a marca colocada pelo Espírito Santo sobre o Papado'. Isso é ainda especialmente lamentável num momento em que o Anticristo Papal parece estar fazendo um esforço final para recuperar o seu antigo poder sobre a mente dos homens. Agora, mais uma vez, como na Reforma, é especialmente necessário que seu verdadeiro caráter seja reconhecido por todos os que desejam ser fiéis ao 'testemunho de Jesus'. Que a Reforma está sendo tragada e minada na Inglaterra, é por demais evidente. Foi declarado com ousadia e eloquência pelo Arquidiácono Farrar, e é reconhecido por alguns dos nossos Bispos. Não é hora, portanto, dos que se opõem ao método historicista – o qual, pelo fato de identificar o Papado como o Anticristo, constitui a base profética da Reforma – se perguntarem se eles não estão desse modo realmente fortalecendo as mãos dos que hoje se dedicam a desfazer esta gloriosa obra?"


Fonte: Joseph Tanner. Daniel and the Revelation: The chart of prophecy, and our place in it. A study of the Historical and Futurist interpretation. London: Hodder and Stoughton, 1898, p. 15 a 17.

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